A reengenharia está de volta?
Autor: Armando Terribili Filho da IMPARIAMO®.
Aqueles que já passaram dos 40 anos de idade devem se lembrar do movimento das reengenharias nas organizações brasileiras, ocorrido em meados da década de 1990, que representava um grande número de demissões. Outra nomenclatura recebida por esta febre que teve início nos Estados Unidos com Michael Hammer e James Champy foi downsizing, que grosso modo significa em português, diminuição de tamanho (no caso, da estruturação organizacional).
Se a palavra “engenharia” é imediatamente associada como construção, a palavra reengenharia, por analogia, representa reconstrução, ou seja, reconstruir algo, sair do zero. Por isso, que na atualidade se discute as reengenharias em três modalidades distintas: a estratégica ou de negócios, a organizacional e a de processos de negócios.
A reengenharia estratégica ou de negócios é quando uma empresa opta por mudar de forma radical sua área de atuação, com mudança nas prioridades de suas linhas de negócios, visão da empresa, tendo por base a atratividade de mercado e seu conhecimento. Muitas vezes, este conhecimento pode ser adquirido com a compra de empresas detentoras de know-how na área desejada. Um caso típico recente foi o anúncio de um grande produtor de televisores acerca de sua prioridade em atuar nos segmentos de equipamentos médicos, em nível mundial.
O segundo tipo de reengenharia, a organizacional, é a que mais se aproxima à da década passada, e tem por objetivo a mudança da estrutura da organização; em geral, através da horizontalização – redução dos níveis hierárquicos. É através deste tipo de reengenharia que se promove as radicais mudanças culturais nas organizações, pois em geral, os líderes são substituídos.
Finalmente, a reengenharia de processos de negócios é que vem sendo realizada nas organizações com maior frequência, seja com apoio de consultorias especializadas ou com equipe própria. É através desta reengenharia que as empresas mudam a forma de fazer negócio. E por que mudam? Resposta única: competitividade! E para uma empresa ser competitiva ela deve ter em seus produtos e serviços: qualidade elevada e custos compatíveis.
Assim, para atingir elevação/aumento de qualidade e custos consistentes há necessidade de se pensar todo o tempo em melhorar a forma de fazer negócio. Por exemplo, um consumidor que compra um livro pela Internet e obtém como resultado de pesquisa preços equivalentes em duas livrarias eletrônicas, certamente optará por aquela com melhor prazo de entrega. Neste caso, reduzir os ciclos (tempo) nos processos é também se tornar mais competitivo. Atualizar-se tecnologicamente também é fator de competitividade: exemplo disto são os dispositivos de segurança para realizações de transações eletrônicas que vêm sendo disponibilizados pelos bancos brasileiros.
Os exemplos de reengenharia de processos de negócios (do inglês BPR – Business Process Redesign) são inúmeros, como: um empreendedor do Colorado que criou uma pizzaria, que assa a pizza quando está a caminho da casa do cliente, por meio de um forno instalado em uma van. Outro exemplo é do empreendedor norte-americano que faz a troca de óleos e filtros on site, ou seja, enquanto você assiste uma aula na faculdade ou está na academia, a empresa presta o serviço enquanto seu veículo está estacionado.
O mercado está cada vez mais competitivo, por isso, as empresas estão pré-dispostas a mudar. Há hoje no mercado softwares específicos para mapeamento dos processos; anúncios de empregos já solicitam profissionais com vivência na área de redesenho de processos, inclusive, com conhecimento em gestão de processos, gestão de riscos e indicadores. Entretanto, um lembrete: a reengenharia de processos de negócios é diferente de “melhoria”, pois a reengenharia muda o processo de forma radical, enquanto a melhoria visa obter incrementos de performance nos processos de negócios.
Qualquer que seja o tipo de reengenharia a ser utilizada pela organização, ela deve ter como base o mercado, a competitividade da organização, as estratégias, o conhecimento e táticas; por isto, ocorre de forma top-down na empresa, pois envolve estudos, pesquisas, riscos, investimentos em tecnologia e na capacitação de profissionais, além de criatividade e coragem. E em resposta ao título deste texto, se a reengenharia está de volta, digamos que ela sempre existiu nas organizações, porém hoje planejada e estruturada.
Notas:
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- Artigo originalmente publicado no site Meta Análise.