Zito: comando e liderança dentro e fora do campo
Autor: Armando Terribili Filho da IMPARIAMO®.
Uma das vantagens em ser um Baby Bommer (nascidos entre 1946-1964) é ter vivenciado a era da maior banda de todos os tempos: os Beatles. Os brasileiros que tiveram a oportunidade de participar dos agitados anos 60 lembram-se das seleções nacionais de futebol e de basquete, ambas bicampeãs mundiais. Naquele período, a ligação da população brasileira com a seleção de futebol era imensa, um vínculo que praticamente transformava os dias de jogos da “seleção canarinho” em feriados nacionais.
Quando se fala da seleção brasileira de futebol que foi bicampeã no Chile em 1962, os nomes que vêm à memória são: Pelé (que pouco jogou nesta Copa, substituído por Amarildo a partir da segunda partida), Garrincha, Vavá e Gilmar. Todavia, uma injustiça tem sido feita em todos esses anos e que merece ser reparada: o nome de José Ely de Miranda, ou simplesmente ZITO.
Nascido no Vale do Paraíba, na cidade paulista de Roseira (160 km da capital) em 08 de agosto de 1932, Zito, chefe de família, foi um exemplo de profissionalismo, não só pelas suas habilidades e competências, mas sobretudo, pela sua liderança e comando junto aos colegas, dentro e fora de campo, sendo apelidado de “Gerente”.
Atuou por 15 anos no time da Vila Belmiro de Santos (desde 29 de junho de 1952), tendo sua origem no Esporte Clube Taubaté. Sua estreia foi na vitória diante do Madureira (3 x 1) em partida amistosa realizada na Vila Belmiro. Sua última partida ocorreu no Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza (CE), no 07 novembro de 1967, em uma partida amistosa contra o combinado dos times Fortaleza e Ferroviário, com goleada santista por 5 a 0.
Pelo Santos, conquistou nove títulos paulistas, quatro torneios Rio-São Paulo, quatro brasileiros, duas Libertadores de América, dois campeonatos mundias interclubes e vários torneios internacionais (México em 1959; Itália, Espanha e França em 1960; Costa Rica, México, França e Itália em 1961; Chile, Venezuela e Argentina em 1965; Estados Unidos, 1966 e Itália em 1967). Pela seleção brasileira foi bicampeão mundial, em 1958 e 1962.
Pelos depoimentos de seus companheiros, como do ex-jogador Dalmo, Zito organizava o time e comandava os colegas, orientando-os. Com foco em resultados, Zito queria sempre que o time fizesse mais gols, mesmo que estivesse vencendo. Zito sempre dizia que “é sempre preciso respeitar o adversário, qualquer que seja ele” e confessava que gritava muito durante os jogos, a ponto de sair rouco de campo. Foi o capitão do melhor time do Santos desde sua origem em 1912. Provavelmente, o melhor time de futebol de todos os tempos!
Pelo Santos atuou em 727 partidas, tendo anotado 57 gols. É o terceiro jogador que mais atuou pelo Santos, sendo superado somente por Pelé e Pepe, respectivamente com 1.116 e 750 partidas. É o eterno camisa 5 do Santos! Pela seleção, atuou em 46 partidas e assinalou apenas três gols, porém um gol de suma importância, na final da Copa de 1962, pois o Brasil empatava em 1 x 1 com a Tchecoslováquia de Masopust, quando aos 24 do segundo tempo, após uma arrancada em velocidade, soltou a bola para Amarildo na esquerda, que após realizar um drible, cruzou para que ele desempatasse de cabeça. O jogo acabaria 3 x 1, pois Vavá ainda marcaria mais um gol.
No campo, Zito atuou como líder, trazendo para si a responsabilidade, incentivando seus companheiros, organizando e comandando. Robbins e Decenzo (2004, p. 391) afirmam que liderança inclui motivar os profissionais de sua equipe, direcionar as atividades dos outros, selecionar os canais de comunicação mais eficazes e resolver conflitos. Os autores certamente falavam de Zito…
Como administrador esportivo, Zito é elogiado por todos com quem conviveu, além de visionário e identificador de talentos (Robinho e Neymar, por exemplo).
Ulrich, Smallwood e Sweetman (2009) apresentam cinco regras da liderança: (1) visionário, (2) executor, (3) gestor de talentos, (4) fomentador de capital humano (formar a próxima geração) e (5) investidor em si (autoconhecimento, saúde, energia, etc.). Esses especialistas norte-americanos certamente falavam de Zito…
Zito além de ter sido um atleta ímpar, um líder, foi também um respeitado dirigente esportivo, que faleceu com 82 anos em 14 de junho de 2015, mas que permanece vivo. Vivo nas mentes e corações de santistas e de amantes do futebol. Desde então, a braçadeira de capitão do Santos teve o tradicional “C” substituído por um “Z”, em sua homenagem. “Z” de Zito, um ícone, um símbolo, uma referência: de caráter, de honestidade, de compromisso e de determinação. Por sinal, qualidades tão ausentes nos dias de hoje no esporte e na política do nosso país…
Referências
ROBBINS, Stephen P.; DECENZO, David A.. Fundamentos de Administração: conceitos essenciais e aplicações. 4. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
ULRICH, Dave; SMALLWOOD, Norm; SWEETMAN, Kate. O código da liderança: cinco regras para fazer diferença. Rio de Janeiro: Bestseller, 2009.
Consultas às bases de dados do Santos F.C., depoimentos, entrevistas e trechos de partidas de futebol disponíveis no YouTube.
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