Offshore: redução de custos ou irresponsabilidade social?
Autor: Armando Terribili Filho da IMPARIAMO®.
Na atualidade, muito se fala em terceirização, entretanto, segundo Maurice F. Greaver II, em seu livro “Strategic outsourcing: a structured approach to outsourcing”, o conceito surgiu há centenas de anos através da contratação de migrantes trabalhadores por fazendeiros em época da safra.
Outros exemplos citados pelo autor: empresas de construções contratando elementos de subsistemas de construções, como por exemplo, o sistema elétrico e hidráulico; e finalmente, o governo norte-americano contratando a produção de equipamentos militares através de parceiros estratégicos. Entretanto, o termo “outsourcing” surgiu nos anos 80 com a crescente tendência das organizações transferirem seus sistemas de informações para provedores externos à organização.
A terceirização, há alguns anos, abrangia sobretudo áreas não estratégicas nas organizações, como: limpeza, segurança, alimentação, manutenção predial e help desk; entretanto, atualmente áreas consideradas prioritárias nas organizações já são alvo de terceirização, sobretudo áreas de Tecnologia da Informação (exemplos: desenvolvimento de sistemas, treinamento, suporte técnico, armazenamento de dados, gerenciamento de projetos, web hosting, etc.).
A redução de custos continua sendo o principal motivador das organizações em terceirizar algumas de suas áreas, porém é evidente que contratar uma empresa especializada em determinado assunto, possibilita obter uma melhor qualidade no serviço, redução nos ciclos e o compartilhamento de riscos, além de permitir que a empresa contratante mantenha o foco o em seu core business/core competencies. Há também benefícios intangíveis com a terceirização, como: melhoria das operações, maior flexibilidade, maior agilidade no processo decisório, melhoria da imagem da empresa, maior satisfação do cliente ou usuário.
A decisão de terceirizar ou não, envolve a análise de um complexo conjunto de elementos que não somente a avaliação de custo/benefício. Torna-se fundamental que o processo decisório pela terceirização tenha um alinhamento à estratégia da organização, com aderência aos modelos de governança, processos e procedimentos definidos. Desta forma, evitam-se terceirizações pontuais e emergenciais que tendem a se transformar em “ilhas” na organização, com baixo nível de integração e dificuldades de gestão.
O autor mencionado no início deste artigo, apresenta uma estruturada metodologia para a terceirização, composta de 7 passos: (i) planejamento de iniciativas, (ii) exploração de implicações estratégicas, (iii) análise de custo/performance, (iv) seleção de fornecedores, (v) negociação de termos e condições, (vi) transição de recursos e (vii) gerenciamento das relações. Destaca-se que o último passo é contínuo, sobretudo porque um contrato de outsourcing pode ter duração de 5, 10, 15 anos ou mais, exigindo das partes o estabelecimento de um substancial modelo de governança, com gerenciamento do desempenho, da solução de problemas e na possível flexibilização gerencial e operacional.
Na metodologia apresentada por Greaver II, a seleção de fornecedores pode ser considerada de suma importância no processo, contemplando além do preço: as referências, a reputação, a qualidade compromissada, o relacionamento existente, os termos contratuais e os aspectos culturais.
No contexto de aspectos culturais, um debate que vem à tona é a questão de fornecedores fora do país (off-shore). A globalização favoreceu esta modalidade de terceirização, havendo vários serviços típicos: desenvolvimento de aplicativos, serviços de atendimento telefônico e processamento de transações. Os principais países que oferecem esta modalidade de serviço são Índia, China, Filipinas e países do leste europeu. Este tema é alvo de discussões polêmicas, pois, os custos são reduzidos em função de mão de obra mais barata, benefícios empregatícios reduzidos, incentivos fiscais, e até energia parcialmente subsidiada.
Se uma empresa no nosso país ao terceirizar uma área, tem como um dos motivadores a redução de custos, a opção pelo off-shore deve ser debatida, não somente quanto aos aspectos de fuso horário, linguísticos (que podem trazer inúmeros problemas de comunicação interna e de negócios), e de riscos quanto à estabilidade econômica-social do país fornecedor do serviço.
Deve-se refletir também na estagnação de oportunidades de crescimento do nosso país. Não se trata de xenofobia, mas de responsabilidade social para com um país em expansão, que ainda luta contra o analfabetismo, pela geração de novos empregos, pelo desenvolvimento tecnológico e pela melhor qualidade de vida de seus cidadãos. A escolha pelo off-shore é difícil, por isso, reflita colocando-se na posição de um empresário que necessita reduzir os custos de sua organização, e em seguida, na posição de um cidadão comum, que luta por uma melhor qualidade de vida para sua sociedade.
Notas:
- É permitida a reprodução desse artigo, desde que citado o autor e a fonte (Impariamo® Cursos e Consultoria).
- Artigo originalmente publicado no site Meta Análise.